
Ícaro Conceição, um chef renomado, construiu sua carreira de sucesso na Austrália graças ao seu intercâmbio, onde aprimorou seu inglês e conquistou seu espaço na gastronomia. Descubra sua trajetória e inspire-se para a sua própria jornada!
Os Primeiros Passos na Austrália
Chegar à Austrália foi um misto de empolgação e incerteza. Eu tinha uma mala, um pouco de dinheiro e um plano: encontrar um emprego o mais rápido possível. Mas a realidade era bem mais complicada do que eu esperava. A primeira noite foi em um hostel barato na Kings Cross Station, uma região boêmia e cheia de mochileiros que buscavam oportunidades como eu. O lugar era pequeno, lotado e com um cheiro de mistura de mochilas velhas e comida instantânea. Fiquei ali, sentado na cama dura, encarando o teto e tentando processar tudo. Será que eu realmente conseguiria fazer isso dar certo?
Nos primeiros dias, fiquei grudado no celular, procurando empregos em todos os sites e grupos de Facebook que encontrava. A frustração batia forte a cada mensagem ignorada, a cada “não estamos contratando no momento”. O dinheiro diminuía a cada refeição e cada diária no hostel. A sensação de urgência crescia. Será que eu ia ter que voltar para o Brasil depois de apenas algumas semanas? Eu não podia falhar. Não depois de ter chegado até ali.
Foi então que a sorte apareceu de maneira inesperada. Um brasileiro que conheci no hostel me ofereceu carona até um apartamento que ele estava alugando. No caminho, conversamos sobre o que fazíamos da vida. Quando mencionei que era cozinheiro, os olhos dele brilharam. “Cara, eu tenho um amigo que tá precisando de um cozinheiro. Quer que eu te apresente?” Na hora, não acreditei que pudesse ser tão fácil, mas aceitei sem pensar duas vezes.
No dia seguinte, eu já estava na entrevista. O dono do restaurante me recebeu e, depois de uma conversa rápida, jogou um avental para mim e disse: “Vamos ver do que você é capaz”. E assim, sem muito tempo para pensar, comecei a trabalhar no mesmo dia. Meu primeiro salário foi de 600 dólares, e lembro da sensação de segurar aquele dinheiro e pensar: “Pronto, estou rico”. Mal sabia eu que, com aluguel, comida e contas, esse dinheiro desapareceria em questão de dias. Mas naquele momento, significava tudo. Significava que eu estava dentro. Que eu poderia fazer isso dar certo.
A rotina na cozinha era puxada, mas me fazia sentir útil. O ritmo frenético dos pedidos, o calor dos fogões, a adrenalina de entregar pratos impecáveis em tempo recorde. Em poucos meses, já ganhava mais de 1.000 dólares por semana e havia assumido a responsabilidade pela cozinha, mesmo sem falar inglês fluentemente. A dificuldade da língua foi um desafio à parte. No início, minha comunicação era feita de gestos e frases prontas. Ouvia as pessoas falarem e pegava palavras soltas, tentando montar uma lógica. Depois de oito meses, meu ouvido já estava mais treinado, e eu conseguia entender melhor. Depois de um ano, conseguia me comunicar no trabalho sem grandes dificuldades. Mas foi só depois de dois anos que senti que meu inglês era fluente. Descobri isso quando percebi que sonhava em inglês e quando consegui fazer piadas que faziam as pessoas rirem genuinamente.
O impacto cultural foi enorme, mas também transformador. Trabalhar em restaurantes asiáticos foi uma imersão e tanto. Todos os dias, a comida dos funcionários me expunha a temperos, técnicas e sabores que eu nunca tinha experimentado. Aprendi a comer pratos que queimavam a boca de tanta pimenta e a entender que comida era mais do que apenas alimentação. Era história, identidade e cultura.
A Austrália não era apenas um novo país para mim, era uma nova forma de viver. Trabalhar na cozinha não era apenas um meio de sobrevivência, mas uma porta de entrada para um universo de possibilidades. O caminho estava aberto para explorar novas culturas, consolidar minha carreira e, principalmente, viajar pelo mundo sem abrir mão da gastronomia. Mal sabia eu que essa jornada estava apenas começando.

